À mulher que é minha mãe

05-06-2021

Aos 52 anos tenho a sorte de ter a minha mãe viva e prestes a completar o seu 84º aniversário. É sempre maravilhoso estar com ela, mas estes dias foram especialmente transformadores. Talvez para ambas. À pergunta simples «como te sentes, mãe?» vem a resposta que já conheço como evasiva. Segue-se a insistência na mesma pergunta e as respostas vão-se adivinhando pelo desconforto na cadeira, pelo titubear dos dedos na mesa. De uma forma natural, reconheço na Lucinda (muitas luzes tenho eu comigo!) uma mulher colorida de emoções e experiências, mas às vezes confundo-a apenas como a mulher que me trouxe para aqui. E é bem mais do que isso, na realidade. Como eu sou mais do que a mãe dos meus filhos, a Lucinda tem muitos outros papéis, alegrias e tristezas, contratempos ou tempos certos, amores e desamores. Mas o que me tem maravilhado é a clareza com que ela olha hoje, a caminho dos 84 anos, para as pessoas que a rodeiam. Assim, sem pesar e com uma consciência tranquila de quem conclui a veracidade sobre os filhos e os netos, a Lucinda (não isenta de olhos lacrimejados) vai ela própria para além da filiação, assumindo temperamentos, feitios, traquinices mas, e sobretudo, a percepção da identidade da família. Filha de pescador e de uma trabalhadora fabril, trabalhadora incansável e provedora única das filhas durante muitos anos, esta Mulher acordará sempre em mim o legado de procura respeitadora e serena, na qual o tempo que corre a tudo responderá. Obrigada, primeira Luz desta minha vida. Anseio, quando for a minha vez, ser capaz de te honrar nesse percurso e dizer-te respeitosamente, através de todos os planos, o quanto esse ensinamento faz de mim um Ser cósmico, porque mais humano.

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